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PERSPECTIVAS E RETROSPECTIVAS DE SÃO PAULO EM SEUS 450 ANOS.


Eng. Luiz Célio Bottura*


São Paulo, metrópole com infinitas possibilidades e perspectivas, atrai pessoas de todos os cantos do mundo. Nela as oportunidades existem, o futuro pode ser plantado, e os sonhos realizados.

Assim são motivados os migrantes e imigrantes que a ela chegam, que a adotam, sendo por ela acolhidos, passando a amá-la e a sentir-se parte dela. Um deles sou eu. Por isto quero falar do meu amor por Ela.

Migrante, neto de imigrantes italianos, mãe Pascoli e pai Bottura, nascido em Catanduva, interior do Estado de São Paulo, criado em Porecatú, e em Jacarezinho, Norte do Paraná, aqui cheguei em 1957, aos 16 anos, perdido em todos os sentidos.

Mudar para São Paulo, uma cidade grande, com cerca de 2,5 milhões de habitantes, foi, ao mesmo tempo, fascinante e assustador. Foi o meu primeiro grande encontro com o Mundo, principalmente com o “Saber”. Eu já havia aprendido que nas Grandes Cidades é que se poderia adquirir conhecimentos e desfrutar dos avanços técnicos, tecnológicos e culturais. Era Fantástico! Aqui tudo era bonito, moderno, sofisticado, diferente. Sentia-se por toda parte, o "cheiro da civilização”. São Paulo tinha de tudo que existia no mundo, e que se poderia ter , até Televisão!

Conhecer esta Cidade, com suas grandezas e mazelas, passou a ser o meu grande desafio. Aprendi sua geografia, passando a compreender que São Paulo é um aglomerado de pessoas, interesses e desafios, onde tudo vive, acontece e se encaminha, em função do humor de seus rios. Rios estes que alimentam, abastecem, inundam e congestionam a Cidade, cujo “coração”, é o Rio Tietê.

Compreender seus congestionamentos, um grande desafio. Já eram cerca de 200 mil veículos, regulares e “clandestinos”.

Pude compreender também a sabedoria do Padre José de Anchieta, que se colocou “a cavaleira”, na perspectiva mais privilegiada que poderia escolher, fincando-se no topo do morro, na vertente do Vale do Rio Tamanduatei. Pois dali tinha a “Boa Vista” que permitia com que desfrutasse todos os ângulos desta maravilhosa paisagem, coberta pela Mata Atlântica, desde a Cantareira, ao Norte, até o Espigão da Paulista, com frondosas araucárias, dividindo as águas do Rio Pinheiras das águas do Tamanduatei, formando, a “grande pizza”, como diz Paulo Caruso, cartunista, arquiteto e urbanista, em seu livro “São Paulo, um olhar com o humor de Paulo Caruso”, no qual declara despudoradamente, seu amor por São Paulo.

Também quis declarar meu amor a Ela, e a forma que encontrei, foi “imortalizar um de seus momentos”, em três dimensões, em uma grande Planta Perspectiva. Queria desenhá-la por inteiro, mas como seria impossível a representação de todo o seu território, foi escolhida uma de suas regiões mais características e geo-economicamente significativas.

Ter a foto de um ente querido é o desejo da maioria das pessoas; e eu queria possibilitar àqueles, que como eu, amavam São Paulo, esta oportunidade. Para tanto, no final dos anos sessenta, coordenando um grupo de jovens e arrojados profissionais, sonhadores e ousados, iniciamos os trabalhos.

Tivemos que enfrentar o grande desafio de aprender a utilizar técnicas muito modernas, pouco conhecidas na época, e de difícil compreensão. Este trabalho de engenharia cartográfica foi desenvolvido baseando-se em fotografias aéreas e terrestres, da região escolhida, em inspeções de campo, fotomecânica, gravação e abertura de plástico .

E, em perspectivas isogônicas, num ângulo tridimensional, em escala de representação que respeitou todas as dimensões, tornamos eterna uma visão da cidade. Nascia a Planta Perspectiva de São Paulo. Foram quase 4 anos de trabalho de uma equipe multidisciplinar.

A importância e o significado deste trabalho foi compreendido e valorizado de imediato pelo Jornal “A Folha de São Paulo”, que o publicou na íntegra, com grandes manchetes na página principal, em abril e maio de 1972, em seis edições consecutivas de domingo. Na primeira pagina do Caderno Cotidiano, era publicada uma parte da Planta Perspectiva, e na segunda, a história de sua elaboração. Fui informado na época, pelo pessoal da “Folha”, que a tiragem do jornal, nesses domingos, teve que ser aumentada, porque eram muitas as pessoas que queriam colecionar a “Planta Perspectiva de São Paulo”.

É constante, e muito me emociona, quando pessoas me encontram e contam que colecionaram o conjunto, e que até hoje, têm a planta plastificada e pendurada, ou muito bem guardada, entre suas “relíquias” e “objetos preciosos”.

Ter tido, durante todos estes anos, a oportunidade de participar ativa e tecnicamente de soluções que contribuíram para o desenvolvimento da Cidade de São Paulo, foi um privilégio que muito me honra. Ter agora, minha “Planta Perspectiva” escolhida para fazer parte da edição da “Folha de São Paulo”, comemorativa dos 450 anos desta querida cidade, me emociona e gratifica, pois esta planta, está cumprindo hoje, um dos objetivos almejados na época de sua criação: possibilitar um registro histórico da história da cidade.

“Folha de São Paulo”, parabéns pelas iniciativas!

Quero colocar nesta oportunidade, reafirmar minha admiração e respeito pelas possibilidades que me foram possíveis na imprensa de uma forma geral, pois sempre me abriram e abrem espaços, para que, idéias inovadoras possam ser expostas, debatidas e implementadas, através de uma ação proativa, buscando sempre todas as perspectivas possíveis para o melhor equacionamento dos problemas em geral, e em especial, os de nossa Querida Cidade.

A seguir dou alguns testemunhos desta postura, das oportunidades para expor idéias.

Em 1977, pude alertar que a Cidade tendia a se expandir para o Sul, no sentido do Vale do Rio Pinheiros. Por isto, medidas “urbanizadoras” deveriam ser tomadas para preparar esta região, uma vez que ela receberia inúmeros estabelecimentos comerciais, pontos de trabalho e moradias, e não tinha infra-estrutura, para suportar todo este crescimento. Como nada foi feito na época, hoje temos na Zona Sul, um alarmante índice de violência, em função da baixa qualidade de vida que esta região oferece a seus moradores. Na época já antevia a guerrilha urbana, que hoje predomina na região. Estamos hoje correndo atrás de prejuízos previstos e de possível prevenção.

Tive também a oportunidade de alertar, neste mesmo ano, que a política fundiária adotada, estava promovendo lutas e mortes no campo, e se algo não fosse feito, isto se alastraria. Hoje, como conseqüência, temos os confrontos de ruralistas com o MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Em 1989 me manifestei sobre as Operações Urbanas, proposta inovadora para a execução da infraestrutura urbana, para propiciar o desenvolvimento harmônico das cidades. Tratava-se de   formulações    para que os  direitos de construir  sobre os terrenos transformassem em oportunidades da cidade recuperar  sua qualidade de  vida.  Quando recursos gerados pelo desenvolvimento imobiliário propiciariam que fosse possível solucionar as mazelas da região gerando ganhos sociais, pois com auto-suficiência e competência para a solução de problemas nas regiões onde aplicadas, e mais que o Poder Publico não precisa investir recursos de seu Tesouro.

Obras, como por exemplo, o prolongamento da Avenida Faria Lima e a Avenida Águas Espraiadas foram executadas sem considerar esta proposta. Em função disto, tiveram custos muito elevados, pagos pelo Tesouro Municipal, beneficiando apenas os negociadores imobiliários, e cujos resultados tornaram-se arremedos de soluções urbanas. Pois os problemas, para cujas soluções foram realizadas, continuam, e de uma certa forma, se ampliaram. As soluções ficaram mais difíceis e dispendiosas, pois a própria valorização tem trazido ao mercado imobiliário conseqüências negativas em função da carência de infraestrutura, com alarmantes quedas nos níveis de qualidade de vida.

Inúmeras vezes tive a oportunidade de me pronunciar sobre o Rodoanel, chamando a atenção e mostrando que se este fosse construído sob diretrizes impróprias, iria adensar a concentração urbana junto aos mananciais e ter uso quase que exclusivo para o trafego local, uma vez que o trafego não vinculado à Grande São Paulo é pouco significativo.

Em agosto de 2002, com o artigo “ PLANO DIRETOR COM LEI DE ANISTIA: ME ENGANA QUE EU GOSTO” manifestei-me sobre as conseqüências maléfica para cidade que é a pratica de leis de anistias as irregularidades publicas e privadas aos imóveis irregulares “clandestinos”, pois impossibilitam padrões de qualidade de vida, provocam congestionamentos, inundações, criminalidade, impossibilitam o desenvolvimento organizado, necessário e clamado por todos no coletivo, mas que no individual, de uma forma quase geral, procuram uma forma fazer um "puxadinho", ou um grande edifício, sempre conivente com a administração publica.

Tive e tenho muitas outras oportunidades, através da imprensa: jornal, radio e televisão, alertar a comunidade paulistana sobre ações publicas e privadas inadequadas e com visões imediatistas, geradoras de problemas e de conflitos para a nossa querida Cidade de São Paulo, no curto, médio e longo prazo, em fim, no presente comprometendo o futuro.

São Paulo, que muito me deu: conhecimento, profissão, oportunidades, amigos, esposa, filhos. Para quem procurei muito me dar. E que neste dar e receber, muito ganhei, principalmente o fato de poder transformar o meu deleite de sempre representar e pensar em seu território, em meu lazer, devoção e profissão. Muito obrigado por poder servi-la!!!


*Promotor de Desenvolvimento Sustentado, Consultor de Engenharia Urbana e Transporte; Membro do Conselho do Instituto de Engenharia - SP; ex-membro dos Conselhos de Administração da: SPTRANS, - DERSA e da CET - Cia Engenharia de Trafego; Presidente da DERSA no Governo Montoro. Autor de diversos estudos, trabalhos e artigos sobre desenvolvimento urbano, uso e ocupação do solo e de transporte. Participou em ± 12.200 estudos, projetos e obras www.bottura.eng.br



Ultima atualização dezembro de 2002 - cota@cota.eng.br
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